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O conteúdo da televisão divide opiniões: sensacionalismo, perseguições políciais e notícias de celebridades são alvos de duras críticas de diversos autores. Por outro lado, há quem defenda o sucesso desta fórmula. Mas afinal: existe uma outra alternativa, capaz de reunir ética e audiência? O que é válido e o que merece ser revisto? A seguir, propõem-se discussões sobre o assunto, com o escopo de avaliar possibilidades e resultados.

Sabatina

De mãos dadas com a nova namorada, entro na casa do ciumento tio Marcos. A família inteira reunida me olha da cabeça aos pés:

– Boa noite. Sou Raphael, e..

– Quem é esse rapaz Pamela?

– É o Rapha tio, ele vem de São Paulo.

– É o moço que eu te falei Marcos, aquele que faz jornalismo…

Junior, o outro tio da Pamela, lança:

– Ai sim! Fomos surpreendidos novamente…

– Vamos, venham até a cozinha vocês dois…  querem um pedaço de pizza?

– Não Marcos, muito obrigado…

– Pizza do que? Têm de mussarela, calabresa, quatro queijos, atum…

– Não estamos com fome tio.

– Tomem os pratos. Raphael né? Bebe cerveja?

– Bebo

– Skol ou Brahma?

– Brahma

– Ótimo, toma uma Skol.

– Rapha, vem cá… vamos para a sala.

Gislaine, mulher de Marcos, se manifesta:

– Sentem aqui na mesa vocês, fiquem à vontade. Querem mais alguma coisa?

– Não precisa tia.

– De São Paulo né? Eu participo de algumas obras por lá… nossa construtora fica aqui, mais na região de Santa Barbara do Oeste, Piracicaba.. mas volta e meia eu tenho um projeto em São Paulo.

– Poxa, bacana…

– Estamos com um projeto no Tatuapé, conhece lá?

– Conheço sim, moro na Zona Leste.

– Ali perto do metrô?

– Não, moro um pouco mais afastado. Conhece a Vila Alpina?

– Próximo ao Jardim Avelino?

– Isso!

– Onde fica o Crematório, o heliporto?

– Isso mesmo!

– Sei. Eu conheço a região.

– Então, nos arredores…

Junior, imbuído de seu espírito bem-humorado:

– Mas é melhor que ele more lá perto do Crematório Marcão.

– Por quê?

– Vai ser mais fácil sumir com o corpo. Hahaha…

Marcos deu risadas, enquanto a Pamela esboçou um sorriso sem graça. Gislaine complementou:

– Assim o moço nunca mais volta pra Piracicaba…

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Raphael Bontempo

 

“TV pública é contraponto à caloria vazia da TV comercial”

Assim defende Cynthia Fenneman, presidente da American Public TV, em sua recente visita ao Brasil. Ela frisa a importância e a isenção dos canais de televisão pública: nos Estados Unidos, por exemplo, tais emissoras (356 ao todo) são proibidas de inserir propagandas e anúncios. Metade da receita advém com as doações de cidadãos e entidades. A outra parte é subsidiada pelo governo.

No caso brasileiro, existem 199 emissoras públicas financiadas pelo orçamento da União.

Fenneman faz duras criticas às televisões privadas, devido a programação com forte apelo comercial. Como solução, ela defende uma maior autonomia dos canais públicos – de forma que estas também sejam livres do governo e da publicidade, cujas influências ‘contaminam’ o conteúdo.

No exemplo norte-americano, as doações individuais para TV pública (em média) alcançam US$ 100! Mas existe sempre um magnata que contribui com mais: a importância doada chega a US$ 1 milhão!

Bem sabemos que o mesmo não ocorre na “Pátria Amada”, onde inexiste tamanha disposição financeira. E que a lógica de audiência clama por assuntos mais “interessantes” do que o enfadonho pragmatismo das emissoras públicas – reféns de formatos com maior potencial sonífero do que instrutivo.

A televisão propõe movimento e não contemplação: a expressão eletrônica nos coloca em contato com transições ágeis e efeitos lúdicos; experiências alheias ao ritmo linear da leitura, que por seu turno, requer silêncio e reflexão.

Outro dado é digno de nota: o universo televisivo norte-americano é composto por 190 canais, estando a TV pública em 15º lugar. Ou seja: no contexto ianque, a transmissão pública está a frente de 92,1% das emissoras comerciais (abaixo apenas dos grandes conglomerados da mídia).

A incongruência do modelo americano com a mídia brasileira nos obriga a buscar outra saída.

Pensando nos rumos da televisão como pilar de debate, compete aqui algumas indagações:  assim como os primos do Hemisfério Norte, poderíamos também apostar na produção pública? E quanto à isenção, uma vez que a transmissão depende dos recursos do Estado? Em nome de uma mídia fidedigna, tentaríamos capitalizar recursos sociais, à imagem e semelhança dos norte-americanos?

Supostamente não…

Então, como filtrar as impurezas da TV? Deixando escoar apenas o conteúdo

O novo Fantástico

Thiago Baltazar

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A reformulação do jornalismo da Tv Globo já começou. Especificamente no caso da revista eletrônica Fantástico, as mudanças vêm ocorrendo há um certo tempo, visto que a audiência está no nível mais baixo de toda sua história. Umas das primeiras atitudes foi a mudança dos apresentadores. Saiu Glória Maria, e entrou, a recém chegada dos EUA, Patrícia Poeta. Pedro Bial ficou no comando do Big Brother e, Zeca Camargo assumiu a apresentação do Fantástico. Saiu Léo Batista do futebol para ficar apenas com a Fórmula 1, e entrou o piadista Tadeu Schmidt. Coincidentemente, ou não, houve uma certa jovialização do quadro de apresentadores.

A editoria esportiva foi uma das mais reformadas. Apresentando futebol e humor simultaneamente, Tadeu Schmidt deixa clara a intenção de prender o leitor pelo entretenimento. O que é muito bom, pois a monotonia que havia na época de Batista foi deixada para trás.

Neste novo modelo, o telespectador pode interagir. Os quadros Bola Cheia e Bola Murcha são os maiores exemplos. Por solicitação do apresentador, há vídeos que são enviados à redação por “peladeiros” amadores. Durante o programa, as pessoas podem votar em quem é o Bola Cheia e o Bola Murcha do domingo. E, no final do ano, comtempla-se o melhor Bola Cheia do Ano com um prêmio. Houve então uma abertura da interação jornalista/espectador, porque de uma certa forma, reduzido às devidas proporções, quem faz a programação é o espectador, e o jornalista apenas edita.

Mais mudanças virão pela frente. Zeca Camargo deixará seu posto para Schmidt. Camargo irá novamente apresentar o reality No Limit. Após o término deste, não há espectativas de que o apresentador volte ao Fantástico.

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O trabalho de infotenimento do Fantástico funcionou muito bem durante muitos anos. Uma das melhores propostas é o quadro Minha Periferia apresentado por Regina Casé.  As regiões mais pobres das cidades ganham cor e voz. Sua cultura é apresentada de  forma despreconceitualizada. Há pouco uso de estereótipos.

A revista eletrônica criada em 1973, já é uma programação tradicional da TV brasileira e por este motivo, segundo fontes não oficiais, não pode ser tirado da grade da emissora.

Veja um trecho do vencedor Bola Cheia e Bola Murcha do ano:

Ana Luisa Valentim

 

Vivemos numa época de transformações, misturas e complementações. O jornalismo, tal como era praticado há algum tempo lentamente enfraquece e cede posto a outras formas complementares da atividade jornalística. Observamos que a aposta dos veículos de comunicação (principalmente a televisão) está voltada à mescla ou até mesmo a predominância de determinados gêneros e conteúdos sobre outros. A programação televisiva está mais ‘leve’, mais fácil de ser digerida; programas como Globo Esporte (Rede Globo), Hoje em Dia (Rede Record) e o ‘recém falecido’ Olha Você (SBT) misturam em maior ou menor grau os games, uma espécie de interatividade (as promoções, desafios, enquetes etc), informações e no caso dos dois últimos, culinária, moda e fofocas.

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O programa Hoje em Dia, surgido há cerca de quatro anos na Rede Record, foi idealizado para competir com o Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga na TV Globo. A fórmula parece ter dado certo, pois ao longo desse tempo mais uma apresentadora juntou-se ao trio Ana Hickman, Edu Guedes e Brito Jr; a ‘fofoqueira’ Cris Flores. No âmbito jornalístico, também houve um crescimento de regiões abordadas; antes, as notícias apresentadas no fim do programa eram apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Agora, há âncoras não só desses dois Estados como também do Rio Grande do Sul, Brasília e Salvador.

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No caso do Globo Esporte, o apresentador parece mais próximo do público, utilizando-se de artifícios como a leveza da linguagem (humor) e a criação de novos quadros, enquetes e charges no site do programa.

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Olha Você foi uma espécie de ‘genérico’ do Hoje em Dia, encabeçado pela apresentadora Claudete Troiano, apresentado por menos de um ano nas tardes do SBT. Num movimento inverso ao de seu inspirador, a atração vespertina da emissora de Silvio Santos fracassou na audiência e foi tirado do ar. Um dos motivos do fracasso seria a falta de ‘química’ entre os apresentadores, e um suposto desentendimento entre Claudete Troiano e Ellen Jabour.

Sucessos e fracassos à parte, o rumo tomado pelos veículos de comunição como um todo parece ser uma via de mão única: cada vez mais produzem-se programas ‘light’ e diversificados em seus conteúdos e abordagens para aproximar-se das novas demandas do telespectador-consumidor.

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Raphael Bontempo


“Qualidade e audiência não se excluem, mas, ao contrário, são o verso e o reverso da mesma moeda. Além disso, sendo a televisão um meio de comunicação de massas que entra compulsoriamente e de graça na casa de milhões de brasileiros, se eles não assistirem é porque alguma coisa está errada…”
Este é o parecer  do advogado José Henrique Reis Lobo, em artigo  públicado no caderno “Opinião” da Folha de São Paulo, no dia 29 de março (confira o artigo completo na seção “na íntegra”, à direira). Atual conselheiro da Fundação Padre Anchieta, José Henrique demonstra um posicionamento crítico pelo canal em que trabalha, e pede às emissoras uma reflexão sobre os rumos que estão traçando. “Insisto em que, para definir a programação da TV, dever-se-ia procurar saber, em primeiro lugar, se há público para o conteúdo que se pretende oferecer e, em havendo, apresentá-lo de maneira interessate e inteligente, tanto no formato quanto na linguagem e na estética”.

A opinião do advogado vai ao encontro da nossa discussão central, que procura alternativas viáveis para o destino da TV. A sugestão apresentada por José Henrique fortalece a idéia de se investir em “Infotenimento de qualidade”.

Mas qual seria a sentença adequada: privilegiar os padrões já consumados? ou apostar na reformulação de conceitos? Convém refletir…

Thaís Ritli

É notável uma nova tendência de mudança no modo de como fazer jornalismo. Os padrões necessitam ser reinventados para voltar a atrair a atenção do público, que busca novas formas de interação e troca de informações.
Apostando na combinação entre jornalismo e humor, o CQC (custe o que custar), apresentado por Marcelo Tas, na Band, conquista audiência com matérias que misturam informação, entretenimento e piadas inteligentes.

A seguir, um vídeo que trata o decoro em Brasília de uma forma leve, descontraída e, ao mesmo tempo, carregada de ironia e crítica.


Cabe aqui uma discussão sobre esse novo modo de fazer jornalismo.

Ana Luisa Valentim

Luciano Martins Costa, em um artigo para o site “Observatório da Imprensa”, pontuou questões válidas no jornalismo atual. Exemplo: a encruzilhada do jornalismo dos dias de hoje, cada vez mais superficial e migrando para o “mundo virtual”. Entretanto, o jornalista parece analisar o “infotenimento” apenas pelo seu lado negativo, afirmando que o mundo atual carece de um jornalismo sério e aprofundado.

Fica ainda uma questão: será que o tal “infotenimento” é o demônio tão feio como tantos pintam? Obviamente, falando especificamente da televisão, existem programas que se encaixam em tal categoria e são completamente descartáveis. No entanto, não podemos deixar de lado que há tentativas de se fazer debates descontraídos e, ao mesmo tempo, bem-humorados e agradáveis, por vezes mesclando informações sérias com cultura popular, curiosidades e experiências dos próprios entrevistados. Um exemplo desse tipo de programa é o programa Sem Censura, da TVE Brasil, sediada no Rio de Janeiro. O que seria esse programa? Apenas entretenimento ou “infotenimento”?

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Thiago Baltazar


A popularização das novas tecnologias midiáticas, como todos sabem, possibilitou uma maior difusão do jornalismo na sociedade em todas as camadas sociais. Por conseguinte, aumentou o acesso às informações por ele divulgadas. Para atrair e se conectar melhor com seu leitor, aumentou, a partir da década de 90, o infotenimento (uso do entretenimento na produção informativa), como afirma Fábia Dejavite em sua pesquisa sobre o assunto.

Confira a pesquisa na seção  “na íntegra” (à direita).

Dejavite nos dá uma definição do que seria o infotenimento:

“(…)É o espaço destinado às matérias que visam informar e entreter(…). Por exemplo, os assuntos sobre estilo de vida, as fofocas e as notícias de interesse humano – os quais atraem, sim, o público”.

Essa aproximação do jornalismo com seu leitor por meio do entretenimento, é válida. Mas seria a melhor opção? Estaria ela sendo feita com qualidade? Alguns acadêmicos e intelectuais do meio não encaram com entusiasmo esse tipo de abordagem na informação. Cíntia Sacramento, em seu Blog Interconectividade, comenta que as mídias mais recentes “se transformaram em um meio de infotenimento estando mais relacionada com o entretenimento que informação. (…). Estamos no Infotenimento Social em que o mercado do entretenimento estará sempre na vanguarda das tecnologias digitais, já que é o ‘circo’ que dá lucros.”

O jornalismo, então, é um produto a ser explorado pela indústria do entretenimento ou seria o entretenimento que está sendo utilizado como um artifício para atrair leitores e  espectadores? Na realidade, ambas as respostam estam certas. O que as diferencia basicamente são as questões econômicas,  éticas e culturais do veículo, do comunicador, e a demanda .

Raphael Bontempo

datena231 “… Os meios eletrônicos de comunicação são complacentes em ceder informação rápida, para aqueles que não possuem tempo de ler jornais. Mas estas mesmas pessoas teriam algum tempo reserva, para decidir se o que elas estão assistindo são notícias genuínas ou apenas uma informação embalada? (…) enquanto muitos argumentam que passaram os tempos áureos do jornalismo, da televisão com Hard News, outros simplesmente defendem que seu formato nunca esteve muito distante do que se tornou hoje…”

Estas são algumas das indagações lançadas por Nicole Morell, da Universidade de Rhode Island, em seu artigo Are Television News Programs Becoming Nothing More Than Infotainment? No texto, são apresentados alguns acontecimentos divulgados pela TV norte-americana a partir da década de 60, que anunciavam o começo do que hoje é conhecido por Infotenimento. A autora explica que eventos televisionados, como o Movimento dos Direitos Civis e a Guerra do Vietnã, tornaram os americanos mais convictos em sua programação, devido à atualidade dos fatos. “Há quem argumente que a dependência nos noticiários da TV, em cenas horríveis da guerra brilhando na tela, conseguiram atingir a atração pública”.

Matthew Nisbet, Professor de Comunicação da Universidade Americana, lançou há alguns anos um artigo no qual criticava o Infotenimento – para ele, temas como o sensacionalismo, celebridades, fenômenos paranormais dentre outros solapam a credibilidade dos principais conglomerados da mídia.

Há muito, ouço a máxima na qual “tragédia vende”. Difícil imaginar o contrário…

Quando um programa lança mão da violência, recorre ao apelo popular, “porque nosso jornal, antes de mais nada, é uma prestação de serviço…”A hipocrisia chega a ser engraçada. Mas o noticiário não: mastiga a carne massacrada pela crônica urbana. A morte, o latrocínio, o estupro ganham tons de chacota. Sabemos bem disso. Falar a respeito é como chover no oceano.

Então, o problema é maior. Porque eventualmente assistimos.

Somos sádicos?