Raphael Bontempo
“TV pública é contraponto à caloria vazia da TV comercial”
Assim defende Cynthia Fenneman, presidente da American Public TV, em sua recente visita ao Brasil. Ela frisa a importância e a isenção dos canais de televisão pública: nos Estados Unidos, por exemplo, tais emissoras (356 ao todo) são proibidas de inserir propagandas e anúncios. Metade da receita advém com as doações de cidadãos e entidades. A outra parte é subsidiada pelo governo.
No caso brasileiro, existem 199 emissoras públicas financiadas pelo orçamento da União.
Fenneman faz duras criticas às televisões privadas, devido a programação com forte apelo comercial. Como solução, ela defende uma maior autonomia dos canais públicos – de forma que estas também sejam livres do governo e da publicidade, cujas influências ‘contaminam’ o conteúdo.
No exemplo norte-americano, as doações individuais para TV pública (em média) alcançam US$ 100! Mas existe sempre um magnata que contribui com mais: a importância doada chega a US$ 1 milhão!
Bem sabemos que o mesmo não ocorre na “Pátria Amada”, onde inexiste tamanha disposição financeira. E que a lógica de audiência clama por assuntos mais “interessantes” do que o enfadonho pragmatismo das emissoras públicas – reféns de formatos com maior potencial sonífero do que instrutivo.
A televisão propõe movimento e não contemplação: a expressão eletrônica nos coloca em contato com transições ágeis e efeitos lúdicos; experiências alheias ao ritmo linear da leitura, que por seu turno, requer silêncio e reflexão.
Outro dado é digno de nota: o universo televisivo norte-americano é composto por 190 canais, estando a TV pública em 15º lugar. Ou seja: no contexto ianque, a transmissão pública está a frente de 92,1% das emissoras comerciais (abaixo apenas dos grandes conglomerados da mídia).
A incongruência do modelo americano com a mídia brasileira nos obriga a buscar outra saída.
Pensando nos rumos da televisão como pilar de debate, compete aqui algumas indagações: assim como os primos do Hemisfério Norte, poderíamos também apostar na produção pública? E quanto à isenção, uma vez que a transmissão depende dos recursos do Estado? Em nome de uma mídia fidedigna, tentaríamos capitalizar recursos sociais, à imagem e semelhança dos norte-americanos?
Supostamente não…
Então, como filtrar as impurezas da TV? Deixando escoar apenas o conteúdo